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Por Sandro Peixoto

sábado, 26 de março de 2016

Meus costumes condenáveis

Por Sandro Peixoto

Tive um relacionamento por mais de dez anos com uma mulher maravilhosa que jamais daria certo. E por incrível que pareça, ‘deu certo’ por um tempo maior que por mim esperado. O motivo da separação? Fácil de explicar e difícil de entender. Tudo que imaginava ser predicado em mim, todas minhas virtudes, meus traços de personalidades lapidados com o passar dos anos não passavam de defeitos para ela. Ou seja: aonde eu percebia correção, ela via defeito. O que acreditava reto, para ela torto. Eu era SIM, ela NAO. E foi assim que tudo terminou. Por um incrível contraste de entendimento e de percepção. Eu cartesiano, ela intuitiva. No final, ninguém soube quem tava certo. Ou, pior ainda. Se alguém tinha razão ou não.

Solteiro, me relacionei com outras mulheres sem nenhum apego. Segui a máxima cristã que diz quê: “enquanto não encontras a mulher certa, vais comendo as erradas mesmo”, versos esses que  encontrei na Bíblia sagrada em Pronomios13, versículo 28. Agi da maneira mais animal possível. Matava seus desejos sem nenhum pudor. Alguns  ‘encontros’, se é que podemos chamá-los assim, saíram mais caros que o combinado. Nessa época eu era feliz e não tinha a menor vontade de começar um novo relacionamento sério. Casar, ser fiel. Essas coisas.Confesso que gostei de ficar só por algum tempo. Vivia feliz assim, sem nenhum trauma. Coisas de homem que fica feliz com um buraco molhado.

Tempo atrás, conheci outra mulher espetacular. Uma pessoa maravilhosa. Talentosa, virtuosa e cheia de vida. O que não lhe falta é determinação e vontade de vencer. Com sinceridade, ganhei seu carinho. Por acuidade, virei um grande amigo. Por carência e fragilidade, confundi os sentimentos e acabei me apaixonando. Foi um choque para ambos. Eu não queria. Ela também não. Aconteceu. E uma coisa tem que ser dita: sentimento é algo incontrolável. Podemos não aceitar, ignorar, esconder e até tentar sufocar. Mas jamais poderá ser controlar. Toda reação – da aceitação a negação – só vem após o sentimento ser exposto. Desnudado.

Ela ficou puta! Chateada.Se sentiu traída.Pode alguém se sentir ofendido por ser amado? Pode! E é mais corriqueiro do que se imagina. O amor dá medo pois requer (ou exige) compromisso. O amor cobra abnegação,  resignação, renúncia. E ninguém quer deixar de ser o que é por mais feliz ou infeliz que se seja. O amor verdadeiro  é um sentimento tão incomum quanto um diamante raro. Difícil de ser encontrado, caro para ser lapidado e mais difícil ainda de ser adquirido. As vezes, temos medo de algo tão grandioso e belo por uma questão bem simples: no fundo, não sabemos como cuidar nem como guardar. Nem se somos merecedores. Afinal a infelicidade se explica. A felicidade não.

Felicidade dá medo pois uma vez assumida, temos receio de perdê-la e jamais voltar a encontrá-la. Para a maioria das pessoas, o amor é pra ser visto nas telas.Para ser sonhado, aguardado ou simplesmente invejado. No mundo de hoje, aonde muitos buscam a felicidade através da realização profissional, do salário alto, do carro na garagem ou simplesmente através da casa própria, ser feliz de amor (ou só por ele) beira o impossível. Afinal, ser amado é como ser invadido. E assim é que desejar e querer - mesmo que por amor-, pode ser visto como algo ofensivo. E o perigo é que num mundo politicamente correto, um simples carinho pode ser malvisto. E nessa loucura, desejo vira tara, carinho  vira safadeza e até um simples elogio vira assédio. Melhor mesmo não amar. Fugir desses sentimentos arcaicos. Do que ontem era o mais belo dos anseios e que hoje virou  - por motivos que jamais saberei- quase um costume condenável.



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