Por
Sandro Peixoto
Nos anos
1980 o jornal Folha de São Paulo tinha na TV uma propaganda muito interessante.
A tela continha pequenos pontos pretos e ao fundo um narrador falava sobre o
líder político de um certo país. Enquanto os atributos do tal líder eram
detalhados, os pontos iam diminuindo, formando uma figura. O narrador só
discorria sobre virtudes de tal pessoa e
para espanto geral, quando finalmente a imagem era revelada, o que se via era o
rosto de Hitler, uma das figuras mais sanguinária da história. Finalizando o
comercial, o narrador alertava: cuidado com o jornal que você lê, pois é
possível dizer muitas mentiras falando apenas a verdade.
Eu mesmo
passei por essa situação. Tive um sócio argentino quando arrendei por três
anos, a Pousada Estalagem, na Rua das Pedras, em Búzios. Conheci meu sócio numa
praia da cidade e ele sempre me pareceu correto. Sem falar que era uma
simpatia. Um dia fui a Buenos Aires acertar alguns detalhes da sociedade e lá
descobri que ele atuava no ramo dos leilões públicos. Com a máfia dos leilões,
melhor dizendo. Para cada pessoa que chegava à nossa mesa, ele contava uma historia diferente tendo como base uma
verdade.
Tínhamos
sim uma pousada e um bar em Búzios porém, de acordo com o interlocutor esse bar
dava lucro ou prejuízo. Era um negócio bom ou péssimo. Uma hora era um sucesso,
noutra, um fracasso. O pior que era tudo verdade pois quem viveu a sazonalidade
dos anos 90 em Búzios me entende. Mas a cereja do bolo foi quando ele contou
para uma pessoa (a quem devia grana) a seguinte história: Búzios é tão perigoso
que contratamos um palestino para fazer a segurança da nossa pousada. Para dar
peso a sua afirmação, olhou para mim e categoricamente disse: está aqui meu sócio que não me deixa mentir. Eu claro, balancei a cabeça de modo
afirmativo.
A
história era verdadeira e era mentirosa. Quando ele disse ‘palestino’ quis
dizer, ou tentar passar a intenção que tínhamos um terrorista, um homem bomba
na segurança da casa. De verdade tínhamos um palestino, amigo meu, na portaria.
Que apesar de ter quase dois metros de altura era um doce de criatura. Incapaz
de qualquer ato de violência. Aceitou o trabalho apenas por precisar. Não
levantava a voz, não sabia lutar e muito menos montar uma bomba. Relembro esses
fatos porque o Brasil está passando politicamente um momento onde a mentira é
tida como verdade inconteste.
Na
tentativa de derrubar a presidente Dilma, a oligarquia do Brasil mente de
maneira deslavada. Pior ainda: agride a legislação, fere a constituição e mata
a justiça. E por incrível que pareça com apoio de quem deveria cuidar da
legislação, honrar a constituição e zelar pela justiça. O impeachment não é por
si só ilegal. Está previsto na Lei. Na constituição. O que é ilegal é o modo em
que está sendo conduzido. Sem que a presidente tenha cometido crimes passiveis
de tal. Apenas por raiva do presidente
da Câmara, deputado Eduardo Cunha Mais Sujo que Pau de Galinheiro.
Dizer
que impeachment não é golpe pois é previsto em Lei é o mesmo que afirmar que no
Brasil a Pena de Morte pelo estado é permitida ( e não é) pois está prevista na
Constituição – em casos de crime de guerra.
Tenho
por regra a seguinte opinião: quem deve tem que pagar, mas não aceito
vazamentos seletivos, execração pública, acusação sem provas e julgamentos sem
o devido respeito as leis e as normas. Não faço isso “por eles” e sim por mim.
Não quero ser a vítima de amanhã. Você que acha normal um juiz ferir a lei apenas por se sentir na
obrigação de salvar o país, fique atento. E não venha reclamar se o raio cair
em sua cabeça. O Brasil está em guerra. Uma guerra política e midiática e numa
guerra como bem sabemos, a primeira vítima é sempre a verdade.
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